Vênus, despudoradamente…. Rua Rio de Janeiro, 750 - Centro, Belo Horizonte - MG, Brasil
Postado em 24 de outubro de 2016 / 548

Na cidade sigo o rito da multidão
perdido entre as galerias e as ruas sem fim
entremeio a pessoas apressadas e indiferentes
contemplo em flashes o meu drama
ligo o mapa do smartphone, ligo a internet e
estranha urbe dissonante se desponta
no meio de burburinho e indiferença
vejo a bela vênus impudica na entrada de um banco
dessa cidade cinicamente avessa à sensual beleza livre,
diz-me a internet: Anita Garibaldi vibrante em sedução
e força vexava os bons mineiros. Acabou
numa ilha de amores quase secreta.
A guerreira catarinense não se recatou
não ao amor casto, ligou a fagulha amorosa
ao escandaloso fogo revolucionário.
Agora no google street view a colossal figura
quase anônima na porta da grande casa financial
não faz levantar o olhar dos passantes
segue impávida ante olhares baixos
em fingida inocência inclina de lado
a cabeça, com o rabo d’olhos vê
no silêncio conspícuo de amores próximos
passarem magotes de outras vênus possíveis.
A rede faz reverberar meus olhos e ouvidos,
fluências de escândalos insensatos do mundo vário
avarias signicas da entropia acelerada:
no porto escultura produz simulacro de mulher nua
assustam-se os usuários do google street view.
A Vênus fatal se deixa ver no chafariz da Perisinistro.
Todo o risco ao coração, o que o nome já diz.
Em sampa policial militar é flagrado com cinco mulheres
nuas em viatura. Não era um passeio, ou era?
Na Tijuca, em pleno horário de almoço, louraça
sai nua de hotel desfila rola na calçada. Pose para fotos
e vídeos no youtube. Pacatos cidadãos profundamente constrangidos
filmam. Não há tempo para cordialidade. Pra que saber o que se passa com a pobre figura?
Devem ser os alucinógenos, ou quiça a tristeza infinda que carregamos todos. Por que saber?
Ainda na maravilhosa cidade há pouco outra jovem chocou sensíveis autoridades. Ora, violência
acontece todos os dias, e o paraíso deve ser bem violento. Covardemente violentada, mas o quê?!
Não era o que ela queria? Somos todos boa gente, não embacem o futuro.
Cinismo, progresso, e a arte já não sublima?
Talvez a beleza seja o grande pecado. A grande máquina não é solidária, e cobra o seu salário diário de sacrifícios.
E vamos segregados, navegando pelo grande buraco negro da vida moderna. Túnel veloz, mundo selvagem, onde a realidade
é pura aparência,
e nem tudo
é o que parece,
mas que sombras poderosas!…
Perdi-me, perdi-me… Pra onde vou?

marcosprod

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *