A casa em que eu vou morar
com meus homens
quase todos
fica em um terreno
plano e raro
na região nordeste
da capital
na esquina exata entre
os meus sonhos
e as tarefas
de dona-de-casa.
É um terreno
quase quadrado
simétrico e alinhado
com as duas ruas
que o ladeiam.
Embaixo dele é aterro.
Sobre ele plantarei meu último suspiro.
A casa é antiga e feia.
Depois que me tornei
dona dela,
chamei um engenheiro
que reformou o meu futuro.
Comprei janelas caras.
Refiz os batentes das portas.
Reorganizei o telhado,
mas ele continuou de vidro.
Ainda não há armários
onde eu possa guardar
minhas roupas quase iguais.
Meus sonhos,
que eram imensos,
haverão de caber dentro
das caixas de sapatos.
Na mudança,
estarei muito preocupada
em trazer meus anéis
e minhas memórias,
mesmo as que estão
quase apagadas,
e os relógios,
por onde meço
meus desapegos.
Nesta casa,
viverei minha infância.
Minha velhice será lenda.
Gosto da nova casa,
onde nem tudo
será novidade,
mesmo quando constato, aliviada,
que lá de dentro
não vejo nada.
Não há vista,
nem há os lados.
Apenas os muros
altos e fechados
e o céu zenital
jamais alcançado.
Viva a Renascença e seus encantos
Suspira nos recantos
conspira em cada canto
para tudo quanto vier
a lira apronta a casa posta
cortante seja seu último canto.